Viva São João!
Estava em São Luís na época certa: junho, época das melhores festas populares do Brasil. E no Maranhão como nos outros estados nordestinos, as festas juninas são diferentes do restante do país. São mais tradicionais e ganham outra proporção mexendo com a rotina dos moradores.
As cidades ficam enfeitadas com bandeirinhas, seja capital de estado ou uma no interior do sertão. As pessoas cumprimentam as outras desejando um feliz São João como se fosse natal. Até as férias escolares de julho, em muitas cidades, acontecem em junho por causa das festas dedicadas a Santo Antônio, São João e São Pedro. Mas o santo que tem moral mesmo é o São João, é tanto que até empresta o seu nome para as festas juninas. Sendo assim, no nordeste as festas de junho são todas festas de São João.
As ruas do Centro históricos estavam todas enfeitadas no clima de São João.
Cheguei a São Luís no dia 13 de junho, dia de Santo Antônio e o primeiro dia dos festejos na cidade. Fui ao Arraial Maria Aragão, estava curioso para ver o São João dos maranhenses que além das tradicionais quadrilhas, tem várias apresentações culturais e principalmente o Bumba meu boi.
Confesso que esperava um arraial maior, não que fosse pequena mas a minha expectativa era grande. Eu ainda guardo a lembrança das festas de Caruaru em Pernambuco e a de Campina Grande na Paraíba. Mas por ser menor é mais original, não só nas apresentações mas também na gastronomia.
A barraca estava disputada.
Gastronomia típica
As barraquinhas eram padronizadas nelas não encontrava só canjica e bolo não, todas serviam comida típica maranhense, do arroz de Cuxá a carne de porco, passando por peixe frito, vatapá e muitos pratos a base de camarão (eu não sabia que era tão comum), além de outros.
E lá não tem essa de pedaço ou porção não, lá é refeição mesmo, um prato feito com o que você escolher. Com R$ 15,00 reais (preço único) comi arroz Maria Isabel, farofa, puã de caranguejo, torta de camarão e camarão frito – gosto muito! E pela primeira vez comi o arroz de Cuxá, pedi pouco achando que não iria gostar, mas é bom, comi outras vezes durante a viagem.
Durante a festa tomei também o mingau de tapioca que não conhecia e também gostei. Tinha também o caldo de ovo, mas esse eu não tive interesse. Ah, e bebi o guaraná jesus que é da terra. Esse eu já conhecia e lembro que gostava, mas dessa vez não gostei.
Na parte de baixo à esquerda da foto, o prato mais tradicional do Maranhão: arroz de Cuxá. E à direita o Cuxá, uma vinagreira, erva azeda camarão, pimenta e farinha que é misturado com o arroz branco. Comi pela primeira vez o tradicional arroz de Cuxá na barraquinha de São João. Gostei muito, mas o cuxá puro eu nem cheguei perto.
O Bumba meu Boi
Mas o que eu queria mesmo era ver o Bumba-meu-boi, a principal manifestação cultural do São João no Maranhão. Os grupos (chamados bois) apresentam a história de Pai Francisco, um escravo que, para realizar o desejo de sua esposa grávida por uma língua de boi, mata o gado de estimação do senhor da fazenda. Percebendo a morte do boi, o senhor convoca pajés e curandeiras para ressuscitar o animal. O boi volta à vida e a comunidade festeja. Assisti a apresentação de Bumba-meu-Boi de Zabumba, Bumba-meu-Boi de Orquestra e Bumba-meu-Boi de Matraca.
Existem dezenas de bois espalhados em São Luís, e todos contam a mesma história, era pra ser repetitivo e monótono, mas as fantasias, coreografia e principalmente os instrumentos que dão o ritmo (zabumba, orquestra e matraca) fazem com que as apresentações ganhem um forma própria diferenciando um dos outros.
A primeira apresentação foi do Bumba-meu-boi de Zabumba (são tambores grandes). É o ritmo original do boi, é o mais tradicional, mais de raiz, com melodias simples e pausadas, vestes muito bonitas feitas de veludo e chapéus grandes com bastantes fitas coloridas. havia gente de todas as idades. Gostei da apresentação, pena que choveu muito durante a apresentação e eles não demoraram.
No boi de Zabumba destaque para os vaqueiros ou rajados com os chapéus cheios de fitas coloridas penduradas.
Os tocadores participaram do cortejo com vestes apropriadas.Observe as zabumbas.
O próximo foi o Bumba-meu-boi de Orquestra (instrumentos de sopro e cordas). Mudou completamente do primeiro, esse sotaque é mais animado, mais contagiante, dá vontade de dançar. É formado mais por jovens e os corpos já não estão tão cobertos . Na apresentação os músicos ficam separados e parece mais um show.
As índias.
Por último se apresentou o Bumba-meu-boi de Matraca. Demorou muito em começar, quase que fui embora. Eles não estavam no local e quando chegaram, muitos pareciam com sono e usavam uma camisa do boi igual às camisas de escola de samba e pensei que a apresentação seria com aquela roupa. Pensei cadê os trajes? Mas estava enganado, eles eram os tocadores e não se apresentam junto com os personagens da história. E tocam muito, o som da matraca (dois pedaços de madeira) é bem característico e se destaca dos outros instrumentos. É contagiante.
Ainda bem que esperei, pois a apresentação do boi de Matraca é muito boa e os trajes são bonitos. As vestes de alguns personagens lembram dos outros dois bois – já que a história é a mesma - mas o traje do caboclo de pena é diferente de tudo e se destaca. Esse boi parece mais como boi de Zabumba, com danças mais tradicionais e os brincantes de várias idades, mas parece ser mais popular aproximando o público.
O caboclo de pena com a fantasia que é um destaque no boi.
Os instrumentos que dão o ritmo do boi. À esquerda é a matraca, dois pedaços de madeira que fazem toda diferença no som e ritmo. À direita, veja o tamanho do pandeiro.
Os vaqueiros ou rajados do Bumba-meu-boi de Matraca.
Depois das apresentações entendi por que o Bumba meu boi é a manifestação cultural mais importante do São João no Maranhão, e que a grandiosidade da festa está na diversidade e riqueza da cultura popular.
Conversando com as pessoas na festa perguntei sobre outros arraiais na cidade, falaram que aquele promovido pela prefeitura era o primeiro, mas que na semana seguinte, já próximo ao dia de São João, aconteceriam vários, inclusive o maior arraial que é promovido pelo governo do Estado. A prefeitura faz uma festa e o Estado faz outra? Fiquei com aquela pergunta na cabeça.
Três dias depois conversando com um morador, ele explicou que como São Luís faz oposição ao governo do Estado (família Sarney), a governadora não libera verba para o município e faz um São João maior para mostrar o seu poder. É, realmente as festas juninas no nordeste ganham outras proporções.
7 Comentários
Oi adorei o seu post sobre as festas de São João em São Luís. Um dia quero poder ver essa maravilha. Um abraço.
ResponderExcluirÓtimo relato. Parabéns!
ResponderExcluirObrigado Júlio.
ExcluirBoa tarde, sou Maranhense, moro em São Luis, fiquei emocionada ao ler o seu relato, aqui a os festejos juninos realmente é lindo, e foi muito bem explicado por você, fiquei muito feliz que pegou a essência do São João daqui, que pode não ser o maior em estrutura, mais com toda certeza é o maior em termo de diversidade, espero que você volte para conhecer os outros sotaques que faltou você olhar, os Bumba-meu-boi do sotaque da baixada e o sotaque de costa de mão, totalizando cinco sotaques, e outras manifestações como o Tambor de crioula, cacuriá, dança do côco, dança do Lêle entre outras manifestações.
ResponderExcluirThaizza, adorei conhecer a sua terra. Tem uma cultura incrível. Obrigado pela visita.
ExcluirPois então, não vejo a hora de estar de frente com as comemorações, principalmente as do Bumba meu Boi. Muito bom ter viajantes e guias de turismo com competência para nos encantar mesmo antes de chegarmos ao destino.
ResponderExcluirObrigado minha amiga! Espero que você aproveite a sua viagem. Bjs.
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