Do alto no avião, pude observar a imensidão do deserto. Uma paisagem totalmente diferente pra mim, inóspita e impressionante, que foi ganhando forma à medida que eu me aproximava durante o trajeto até San Pedro de Atacama. Paisagem de uma cor só, mas que no decorrer dos passeios foi ganhando diferentes cores em paisagens singulares e difíceis de imaginar que existam em um deserto.
Paisagem do deserto durante o trajeto até San Pedro de Atacama. Sem variação de cor, mas longe de ser monótona.
Cordilheira de sal, entre Calama e San Pedro de Atacama.
O deserto do Atacama é o mais árido e alto do mundo localizado no norte do Chile. Por isso quem vai pra lá, e que não está acostumado com a altitude e o clima seco, pode ter algumas dificuldades. Eu já desci no aeroporto de Calama (cidade que é o portão de entrada para quem vai conhecer a região via aérea) sentido dores na cabeça. Fiquei na dúvida se era a minha habitual enxaqueca ou se era o tal mal de altitude (soroche). A dor permaneceu até eu dormir, mesmo com chá de coca, bala de coca e um comprimido que o recepcionista do hostal ofereceu.
Esta era uma das minhas preocupações para a viagem, não queria que nada atrapalhasse, então segui as recomendações. Deixei o primeiro dia para adaptação com a altitude, comecei com os passeios mais baixos e o tempo que fiquei na região bebi muita água, nada alcoólico, nem sequer uma cervejinha. Não senti mais dor de cabeça, só fiquei com os lábios e nariz ressecados. Mas encontrei gente que não teve problema algum.
Caracoles, a rua principal de San Pedro de Atacama.
De Calama segui até San Pedro de Atacama, cidade com 5.000 habitantes, distante aproximadamente 100 km e que serve de base para a maioria dos visitantes para fazer os passeios na região.
Um povoado distante, no meio do nada, então sem circulação de muitos carros, tranquilo. Esta era a imagem que eu havia formado de San Pedro. Mas apesar de ser distante e no meio do nada, ela é uma cidade turística, então quando fui chegando vi um lugar totalmente diferente daquilo, encontrei muitos carros circulando pelas ruas estreitas de terra, lugar empoeirado e feio. Mas tudo bem, não seria a primeira impressão que iria ficar. Andando pelas ruas do “centro”, fui ignorando os carros e encontrando a San Pedro que imaginei, o lugarejo tranquilo com moradores simples e acolhedores, casas baixa de barro podendo ser facilmente confundidas com a paisagem do deserto.
Não foi possível conhecer a igreja, estava fechada para restauro em janeiro.
Apesar da simplicidade e longe de tudo, San Pedro de Atacama recebe visitantes de todos cantos, idades e bolsos. Esta diversidade é vista facilmente nas ruas entre um passeio e outro. Para atender essa demanda a cidade oferece muitas opções de hospedagem, desde o albergue mais simples até os mais confortáveis hotéis.
Turistas dando mamadeira para as Iamas (ou Ilhama), nas ruas de San Pedro.
Oferece vários restaurantes para todo tipo de bolso (não se engane com a fachada simples), muitos deles estão na Caracoles, a rua principal. No primeiro dia almocei no restaurante Las Delícias de Carmen, lugar muito indicado e queria muito conhecer, mas não gostei. Para quem quer comida boa e barata e não se importa com lugares simples, tem que ir a uma rua que fica atrás da feira de artesanato onde moradores frequentam. Comi lá uma carne de cerdo muito saborosa e com excelente preço. Não frequentei muitos restaurantes pois fiz dois passeios com almoço e o hostal servia lanche bem farto todas as noites.
Plaza de Armas, principal da cidade. Assisti aqui um show muito bom de músicas latinas.
Agências de turismo praticamente tem uma ao lado da outra, também tem lojinhas, pequenas mercearias, casa de cambio e sorveterias. E uma portinha só no comercio pode ser tudo isso. Na maioria dos lugares fui muito bem acolhido, como em uma sorveteria que fui atendido por uma senhora colombiana, que se ficasse calada poderia ser facilmente confundida com uma nativa. A Maria foi de uma simpatia incrível, e quando viu que eu era brasileiro, conversou em português perfeito.
Feira permanente de artesanato em San Pedro de Atacama.
Já viajei com uma ideia dos passeios que eu queria fazer, e para cumprir a minha programação reservei 04 dias além do dia de chegada. Deixei para reservar tudo lá, alterando pouca coisa do que pretendia quando visitei as agências . A maioria delas faz os mesmos passeios nos mesmos horários, mudando um ou outro e o dia deles. O que difere são os serviços como transporte, guia, refeições e assistência. E com isso os preços também mudam, então pergunte tudo antes como vai ser para não ficar decepcionado depois. Imagina durante o passeio a agência servir um almoço chinfrim para você, e bem ao lado chegar outra agência e servir uma refeição de dar inveja? Isso acontece.
San Pedro de Atacama recebe muitos brasileiros.
Eu pretendia fechar todos os passeios em um só lugar para ficar tranquilo e conseguir bons descontos. A princípio pensei na agência Ayllu, de propriedade de uma brasileira e muito indicada por blogs. Mas mesmo com o desconto oferecido, o valor ficou distante das outras. Depois pensei na agência Lickan Antay, que também é indicada por blogs de viagens, oferecia os preços mais baixos e também fui atendido por brasileiros. Mas fiz o primeiro passeio com eles e não gostei nada dos serviços.
Então na hora de combinar horários, preços e satisfação, acabei fazendo cada passeio com uma agência diferente. Paguei todos separados em pesos chilenos na véspera, alguns casos até mesmo na hora. Ficou assim a minha programação:
1º dia: chegada a San Pedro de Atacama, orçamento de passeios e mal de altitude (dor de cabeça).
2º dia: à tarde, Lagunas Lickan Antay com a agência do mesmo nome (não gostei do serviço).
3º dia: de manhã fiz as Lagunas Altiplânicas com Piedras Rojas, com a agência Ayllu (gostei muito do serviço). À tarde Valle de La Luna e Valle de La Muerte, com uma agência que não lembro o nome.
5º dia: de madrugada fiz Geyser del Tatio com a Turismo Kaulles (gostei do serviço). À tarde retornei a Santiago.
Foi tempo suficiente para fazer os passeios que eu queria. Mas tem gente que fica mais dias para fazer outros passeios. Talvez eu mudaria o último dia, e em vez de retornar a Santiago, dormiria mais uma noite para sair sem a preocupação de ter que acordar cedo para fazer passeios.
Eu estava preocupado de não conseguir fazer os passeios, pensando em ter que andar ou subir muito mas foi tudo muito tranquilo. Nos passeios escolhido fui de van perto ou bem perto de todos. O passeio que senti mais foi o Vale de La Luna. Em janeiro fez muito calor, levei água, usei óculos escuros e chapéu em todos os passeios. Apesar do calor, também usei agasalho em algum momento nos passeios. Principalmente nas Lagunas Altiplânicas, Salar de Tara e Geysers del Tátio, devido o horário de saída, altura e vento.
Quase que presenciei um fato raro na região, chuva. No penúltimo dia o céu escureceu com nuvens pesadas parecendo que depois de muito tempo ia chover em San Pedro. Ainda bem que não vi isso, pois dizem que a cidade vira uma lama só, os passeios não acontecem e as estradas ficam interditadas.
Como fui:
De avião a partir de Santiago até Calama, cidade com aeroporto mais próximo de San Pedro de Atacama (duas horas de viagem). Fiz o transfer com a Licancambur, agendei por e-mail e fiz o pagamento no aeroporto quando cheguei. Paguei 20.000 pesos a ida e volta (no câmbio do dia, R$ 90,00). A viagem demorou quase 02 horas na ida e um pouco mais de 01 hora na volta.
A Licancambur foi a única empresa que vi indicações nas minhas pesquisas, por isso fiz com ela. Mas não é a única, existem outras como Transfer Pampa, o preço é o mesmo. Quando cheguei ao aeroporto, havia algumas pessoas oferecendo o serviço.
Acho que Licancambur sacaneou na chegada. Depois de fazer o pagamento e esperar alguns minutos, veio uma funcionária e pediu para eu e os outros passageiros esperarmos mais 10 minutinhos pois alguém havia vomitado na van e estavam providenciando a limpeza. Porém, a van já estava parada um tempão no estacionamento e por coincidência saímos logo depois que chegou um outro voo. Com isso esperamos uma hora.
Também tem como chegar a San Pedro a partir de Santiago através de ônibus. Só não pode ter pressa, a viagem demora mais de 20 horas.
Onde fiquei:
Se tratando de deserto, sol, poeira, calor… pensei ficar em um hotel, mas quando vi os preços mudei de ideia. Procurei hostal, mesmo não gostando da ideia de ter que dividir quarto, esperar depois dos passeios para usar o banheiro. Encontrei o Hostal Campo Base bem avaliado, então resolvi reservar mesmo sendo mais caro que outros. Paguei 35 dólares a diária em quarto para quatro pessoas com banheiro privativo e café da manhã.
Valeu muito a pena. O pessoal é atencioso e prestativo, a limpeza do quarto e banheiro é feita diariamente, toalhas trocadas todos os dias, café da manhã muito bom, o hospede tem direito a uma garrafinha de água por dia, e lanche toda noite. E quando o hospede sai antes do café, eles preparam uma sacolinha de lanche. Quartos com armários grandes e ventilador, muito necessário no calor de janeiro.
É bem localizado, pertinho da rua principal mas tranquilo. Os quartos não ficam de frente para a rua, não tendo o incômodo do barulho dos carros. Aceitam pagamento em dólar ou peso chileno sem cobrança do IVA, apresentando o passaporte. Eu ficaria lá novamente.
Veja o roteiro da minha primeira viagem ao Chile AQUI
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