Acontece no último fim de semana de junho o Festival Folclórico de Parintins, que também é conhecido popularmente de Festival do Boi-Bumbá. Parintins é uma cidade que fica à margem direita do rio amazonas distante 420 km, via fluvial, de Manaus a capital do estado.
O ponto alto do festival é a apresentação das agremiações boi garantido e boi caprichoso. Durante 3 noites elas apresentam a história de Pai Francisco e Mãe Catirina que tem um desejo incontrolável de comer língua de boi durante a gravidez, e pede a seu marido para saciá-lo. Só que para cumprir a tarefa, Pai Francisco mata o boi preferido do patrão, que acaba descobrindo que chama um padre e um médico (pajé na língua dos índios) para salvarem o boi que ressuscita. Pai Francisco e Mãe Catirina são perdoados e a comemoração é completa.
Em 2003 eu tive a oportunidade de assistir as apresentações. Na ocasião estava em Manaus participando do Congresso Nacional de Guias de Turismo e tive a sorte de encontrar com a minha amiga Ivone, Guia de Turismo de Vitória, com um grupo indo ao festival. Não perdi tempo e falei da vontade de querer ir, mas a viagem dela era de barco com poucas cabines e já estavam todas completas. Mas se eu não importasse eu poderia ir de rede junto com a tripulação. Claro que aceitei.
Eu tive que agir muito rápido, pois encontrei com ela à noite e a viagem era no dia seguinte na hora do almoço. Não sabia muito bem o que eu ia ter pela frente, mas também não sabia quando eu poderia voltar a Manaus e muito menos conhecer o festival.
Na mesma noite fui a uma agência de turismo para comprar o ingresso. A atendente me perguntou se eu queria ingresso para uma noite só ou para as três noites, eu nem sabia que eram três noites. Aí veio a dúvida, eu imaginei ver só duas agremiações contando a mesma estória durante três noites. Mas a atendente me convenceu falando que era muito bonito e que valeria a pena ver as três noites. Mesmo pensando que era papo para vender os ingressos, que não eram baratos, eu comprei para todas as noites mesmo correndo o risco de não gostar. Ainda bem que fiz isto, pois é muito bom o festival.
Chegando a Parintins.
j
j
Na manhã seguinte fui ao porto de Manaus e comprei uma rede para a minha viagem. E na hora marcada quando cheguei para a viagem, Ivone com um sorriso que é peculiar estava a bordo do barco como o seu grupo. Começamos a viagem em Manaus no Rio Negro até o encontro com o Rio Solimões e formar assim o Rio Amazonas indo até Parintins. Viajamos durante 19 horas, fomos devagar, pois nesta época do ano o movimento de embarcações é muito grande, exigindo uma fiscalização grande da Polícia Fluvial Federal. Você vê todo tipo de embarcação navegando.
Pela manhã chegamos a Parintins. Durante a nossa estadia na cidade, ficamos hospedados no próprio barco atracado no porto, tínhamos até um cozinheiro a bordo onde preparou de moqueca a churrasco e todas as noites quando chegávamos da apresentação encontrávamos um caldo nos esperando. Ficar hospedado no próprio barco era a coisa mais normal, a cidade não oferecia muitas opções de hospedagem.
Porto de Parintins onde dormi 3 noites em rede.
Nos três dias que fiquei na ilha eu pude andar a pé e passear de triciclo (por R$ 1,00) conhecendo um pouco do lugar. Parintins mesmo com aproximadamente 100 mil habitantes, parecia uma dessas cidades pequenas do interior onde as pessoas têm hábitos simples e que sofrem um impacto muito grande com a chegada de uma multidão para o festival.
Na cidade só existem duas cores: vermelho e azul, respectivamente as cores dos bois garantido e caprichoso. É impressionante como a cidade respira o festival e a lenda do boi-bumbá. Só quem assiste a apresentação consegue compreender porque isto acontece. Se você pegar um taxi e pedir para ir até o "curral" do boi "garantido" e se o motorista for "caprichoso" ele vai dar uma desculpa e levar você para o curral do boi caprichoso. (curral é como se fosse o barracão de uma escola de samba).
Os patrocinadores do festival tem que usar as cores dos dois bois para ter aceitação. Em 2003 os patrocinadores oficiais eram o Bradesco, Correios e Coca-Cola. Todos três têm a cor vermelho e eles tiveram que ter as suas logomarcas e propagandas também em azul por causa do boi caprichoso. Os jurados do festival usam canetas de cor verde para não serem influenciados no resultado.
Boibódromo, local das apresentações dos bois. Foto do site da prefeitura de parintins.
Durante o dia uma multidão se reúne numa praça a beira rio onde acontecem shows e à noite o ponto de encontro é o bumbódromo. Um tipo de estádio com o formato de cabeça de boi estilizada com capacidade para 35 mil pessoas, onde só uma parte dos ingressos é vendida e outra parte é distribuída para o público em geral que chega cedo para conseguir um lugar. Os que não conseguem entrar assistem nos telões que ficam do lado de fora.
O bumbódromo também é dividido igualmente em azul e vermelho. Foi lá que eu vi pela primeira vez a logomarca da coca cola em azul. A coca cola antes de Parintins não havia mudado a sua cor em lugar nenhum do mundo.
A apresentação começa às 21 horas e cada boi tem 3 horas para desenvolver o enredo. Até então eu não sabia para que boi eu ia torcer. O meu ingresso, ao contrário do restante do grupo da Ivone, era do lado do boi garantido. Que naquele ano foi o campeão.
Foto retirada do site Diário do Caboco.
É importante saber para que boi você vai torcer, pois não pode mudar depois, a não ser que compre outro ingresso, e o desempenho da torcida faz parte dos quesitos de avaliação dos jurados. Na alegria e animação eu até que ajudei o meu boi, mas na sincronia eu prejudiquei. Eu não conseguia acompanhar a coreografia e errei todos os passos.
Quando o boi contrário está se apresentando a torcida não pode se manifestar de forma alguma. E assim você acaba prestando mais atenção na apresentação do outro boi. E ao contrário das escolas de samba que repetem o samba-enredo durante o desfile, os bois cantam várias músicas. A única que eu sabia parte da letra era a música que ficou famosa pela Fafá de Belém.
Do meu lado na arquibancada estava um médico de Manaus e sua família. Ele me contou que todo ano ele diz que não vai ao festival, mas quando vai chegando a época ele não consegue ficar na cidade. Então ele muda plantão com os colegas e fica os três dias em Parintins. A apresentação realmente é fantástica e cada noite é diferente.
Ao relatar esta minha viagem eu queria descrever o que é o festival, mas não consigo. Você não consegue ter dimensão do que é vendo fotos, vídeos ou muito menos lendo sobre. Você tem que ir a Parintins (de preferência de barco), uma comunidade ribeirinha numa ilha no rio amazonas e assistir um espetáculo feito por índios e pessoas simples para ter a real sensação desta manifestação cultural que é o festival do boi - bumbá. A região amazonas e suas lendas são impressionantes.
Como a minha passagem de volta para Vitória já estava marcada, na última noite depois da apresentação eu tive que voltar a Manaus de avião, e a viagem que durou 19 horas de barco agora só demorou 30 minutos. Foi rápida, mas não prazerosa como navegar no rio amazonas.
QUANDO
Acontece no mês de junho. Antigamente era nos dias 28, 29 e 30 independente do dia da semana. De uns anos pra cá passou a ser no último final de semana começando na sexta e terminando no domingo.
COMO CHEGAR
Em Parintins só chega via aérea ou fluvial. Na época do festival tem vários tips de embarcações saíndo do porto de Manaus. Também tem vários horários de voo tanto para ir e voltar na mesma noite.
0 Comentários