Ilha do Amor
Era um sábado de 2010 quando vi pela primeira vez uma reportagem na TV sobre um lugar chamado Alter do Chão. O nome chamou a minha atenção, mas não mais do que saber que nesse distrito de Santarém, Pará, uma ilha e os quiosques de praia ficam cobertos pela água durante a cheia do rio Tapajós. Logo quis conhecer aquele lugar que só tem praia por seis meses do ano. Depois de algumas tentativas, finalmente ano passado consegui ficar 3 dias inteiros lá, mas foi pouco, deveria ter ficado mais tempo.
Alter do Chão é uma simpática vila de pescadores que depois que saiu na mídia como o caribe amazônico passou a receber turistas, mas que ainda guarda características de uma pequena comunidade onde os moradores conversam na porta de casa e que passaram a dividir a praça da matriz com gente vinda de outras bandas. Em frente a praça está o Rio Tapajós que durante a cheia chega até o calçadão, mas na baixa deixa à mostra a ilha do amor (que na verdade é uma península), o cartão postal que atrai tanta gente.
Pois é, eu subestimei este cenário, que mesmo querendo muito conhecer, achei que três dias seriam suficientes, vacilei pois daria para ficar pelo menos cinco dias. Alter do Chão tem muito mais que uma ilha e uma praça, tem uma natureza que proporciona passeios incríveis sendo possível conhecer outras praias, igapós e comunidades que vivem no meio da floresta amazônica.
Durante o dia a praça é passagem para quem vai fazer esses passeios e na volta deles, no fim do dia, as barraquinhas ao seu redor estarão abertas sempre com alguma coisa gostosa da gastronomia paraense. À noite todos voltam a praça, mas dessa vez é para aproveitar os restaurantes ao seu redor e curtir alguma apresentação. Foi ali que finalmente depois de 6 dias no Pará assisti uma dança de Carimbó.
Alter do Chão é tranquila e é para quem quer aproveitar o dia, quem gosta da noite provavelmente não irá curtir. Quem quer conhecer, mas não quer tanta tranquilidade tem que ir nos finais de semana ou feriado quando mais gente procura o lugar. Agora, se quer ir na alta temporada para ver muita gente, disputar lugar nos poucos restaurantes e pagar caro pela hospedagem então tem que ir em Setembro quando acontece o Sairé, um festival folclórico com procissões marítimas, danças e a disputa dos botos Tucuxi e cor de Rosa.
Fim de tarde na Ilha do Amor
O que fazer em Alter do Chão
Tem passeios ali mesmo na vila e que dá para fazer por conta própria, mas para fazer os mais distantes é preciso contratar alguma agência ou então fazer diretamente com os barqueiros de uma associação. Eles ficam na praça ou a beira do rio e com certeza irão até você. Os preços deles são por passeio, então é bom que divida com mais alguém. Mas é possível negociar se estiver sozinho, tive que fazer isso em um passeio.
Um dia tem que ser reservado para a vila. Atravesse o rio e vá a Ilha dos Amores, se não der para ir andando, não se preocupe pois os barqueiros fazem a travessia por um valor baixo. Na praia pegue uma mesa dentro do rio e fique ali o tempo que desejar e não se preocupe pois você será servido lá mesmo. Só vai precisar levantar se quiser mergulhar nas águas claras do Tapajós ou então andar de caiaque. Se for à tarde espere o por do sol, vale a pena.
Ainda na ilha tem a opção de fazer um trilha até a Serra Piroca onde do alto tem uma ampla visão de Alter. O trajeto é de uns 40 minutos, em terreno de areia e íngreme entre vegetação. Eu resolvi fazer a trilha, mas não conclui porque fiz já no fim da tarde e no caminho começou escurecer e resolvi voltar. Outro passeio que pode ser feito no lado da vila é ir a Praia do Cajueiro, é bem próxima e chega-se lá caminhando acompanhando o rio pois assim a hora que quiser é só se jogar na água.
O Rio Tapajós chega a ter 20 km de largura
Para fazer outros passeios será necessário contratar o serviço e eles duram o dia todo ou até mais de um dia no caso de dormir em alguma comunidade ribeirinha. O rio é extenso então muitas praias poderão ser conhecidas e não pense que são todas iguais que não são. Em um dia fiz o passeio para a Praia do Pindobal passando por outras praias e lagos. A praia é linda e passei praticamente o dia ali comendo peixe, mergulhando nas águas mornas e vendo aquele marzão, ou melhor, riozão, mas que parece mar já que não dá para ver a margem do outro lado.
Praia do Pindobal
Em outro dia fiz o passeio para a Praia Ponta de Pedras, mas antes paramos na Lagoa Preta e mesmo não tão cheia, deu para mergulhar e ficar ali por um tempo. Foi muito bom. Depois seguimos para a praia e lá ficamos um bom tempo para poder almoçar e mais uma vez comi peixe. Já à tarde no retorno paramos na Ponta do Cururu para o Pôr do Sol, fechou o dia com chave de ouro. Eu gostei mais da Praia do Pindobal, mas esse passeio é mais completo. O Pôr do sol na Ponta do Cururu é vendido como um passeio separado, então se não fizer nenhum passeio que passe por lá, faça ele separado.
Praia Ponta de Pedras
Em 3 dias eu só consegui fazer isso. Acabei não fazendo um que eu queria muito que era o passeio na Floresta Nacional do Tapajós, a FLONA. Nesse passeio é realizado o turismo comunitário com trilhas e conhecendo um pouco da floresta, dura o dia inteiro. Hoje teria feito diferente o meu roteiro, teria substituído a Praia da Ponta de Pedra pela Flona. Ou seja, vou voltar a Alter do Chão para fazer este passeio e outros que não fiz como o Lago verde e Floresta Encantada, Canal do Jari entre outros.
Pôr do sol na Ponta do Caruru
Não conheci a cidade de Santarém, só o aeroporto, mas a partir de lá tem o passeio para ver o encontro das águas do Rio Tapajós e o Rio Amazonas.
Quando ir
Se quiser encontrar as praias e ver a Ilha do Amor tem que ir no período de baixa do Rio Tapajós que é no segundo semestre, de agosto a dezembro, mas pode começar um pouco antes e se estender um pouco mais. Eu fui em outubro e durante a semana, estava bem tranquilo e aproveitei bastante, o rio estava bem baixo e nem precisei da catraia (pequenos barcos) para ir até a ilha do amor.
O período mais procurado é quando as águas estão baixas, mas segundo o pessoal de lá, na alta dá para fazer também muitos passeios, inclusive alguns que só acontecem na alta.
Dança de Carimbó na praça
Hospedagem e alimentação
Alter do Chão tem uma estrutura razoável de hospedagem, mas tem poucos restaurantes. Além de hotéis e pousadas tem também hostel e até redário onde você chega, estica a sua rede e divide os espaços.
Eu fiquei na Pousada Vila Alter, simples com o básico, frigobar, ar condicionado, café da manhã gostoso e um bom atendimento desde a reserva. Fiz toda reserva pelo Whatsapp 93 99173-9772 e só paguei lá na saída. A pousada fica umas 4 quadras da praça. O centro de Alter é pequeno e ficando nele dá para fazer tudo a pé numa boa.
Come-se bem em Alter do Chão, principalmente quem gosta de peixe e frutos do mar. Os peixes da Amazônia são deliciosos. Tem para todos os bolsos, PF à la carte, lanchonete e pizzaria, além das barraquinhas na praça que vendem muita coisa gostosa e pratos típicos do Pará com preços legais. Comi um vatapá muito bom, e olha que não gosto do vatapá baiano, mas gostei do paraense. A maioria dos restaurantes está ao redor da praça.
Como Chegar
Distante aproximadamente 850km de Belém, para chegar lá só de avião ou barco. O aeroporto mais próximo fica em Santarém distante 37km, os voos fazem escala ou conexão em Brasília, Belém ou Manaus, então aproveite para conhecer o norte do Brasil. De barco é possível chegar a partir de Belém e Manaus numa viagem de até 3 dias.
De Santarém chega-se a Alter do Chão por rodovia. No aeroporto tem a opção de taxi ou ônibus urbano. Os taxistas vão tentar te convencer de ir com eles, um foi até o banheiro atrás de mim, a corrida fica em torno de R$ 90,00. Eu fui de ônibus mesmo, é fácil e tranquilo. Saindo do aeroporto vire à direita e pegue o ônibus para o centro de Santarém e desça no Shopping Rio Tapajós que fica próximo ao aeroporto. Atravesse a avenida e pegue do outro lado o ônibus que vai de Santarém para Alter do Chão. À noite a opção é ir de taxi ou combinar um transfer com o hotel.
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